Líder do PT na Câmara cobra sensibilidade de partidos da base para que deixem de obstruir pauta de votação e afirma que discurso de que 'blocão' dará autonomia ao Legislativo é 'furado'
O líder do PT na Câmara dos Deputados, deputado Vicente Paulo da Silva, Vicentinho (SP), afirmou nesta quinta-feira (6) que “um partido não pode ter duas caras”, acrescentando não ser possível ser do governo e agir como oposição ao mesmo tempo. A declaração foi uma referência à postura que tem sido adotada, nos últimos dias, pelo líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), que tem protagonizado sérias divergências com o governo. Cunha, famoso por obstruir votações importantes para o Palácio do Planalto, entende agora que os peemedebistas deveriam “repensar” a relação com o PT, inclusive no que diz respeito às alianças para as eleições de outubro.
Vicentinho disse que espera um entendimento entre os peemedebistas para que se chegue a um acordo que permita a votação, a partir da próxima semana, das matérias que se encontram pendentes na Câmara – caso do projeto referente ao Marco Civil da Internet e o que institui o sistema de cotas para negros nos concursos públicos para o Executivo, entre outros.
Ele também contestou o discurso pregado por Eduardo Cunha quando foi formado um “blocão” composto por legendas da base do governo. Cunha, na ocasião, destacou que, com tal atitude, o novo bloco estaria na verdade fortalecendo o Congresso Nacional como um todo, que assim passaria a ser mais valorizado pelo Executivo Federal.
“Esse discurso é furado. Fortalecer o Congresso é deixar fluir as votações e não ficar obstruindo a pauta do plenário. Eles (deputados que integram o bloco) são da base do governo, então por que não liberam as votações?”, questionou, referindo-se, principalmente, ao PMDB. O líder petista, que recebeu os jornalistas para uma conversa informal em seu gabinete, salientou que é preciso haver maior sensibilidade por parte dos partidos no sentido de contribuírem para o andamento das votações. “Respeito a posição de todos, mas a Casa precisa produzir, inclusive para prestar contas à sociedade. E o melhor caminho é tentarmos buscar um entendimento”, ressaltou.
Sobre a tentativa de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar supostas denúncias de suborno envolvendo a Petrobras, Vicentinho disse que não é contra a investigação, mas que é preciso ver o que está por trás dessa apuração em si. “A Petrobras já abriu sindicância para apurar as denúncias, nós acreditamos na apuração e até acho normal que se crie uma comissão aqui para investigar o que aconteceu. Agora, o que questiono é uma comissão criada pela oposição, viajar até a Holanda com quatro ou cinco deputados quando as informações podem ser pegas aqui mesmo.”
Ministérios
O líder do PT afirmou ainda que entende o jogo interno feito entre várias legendas, sobretudo o PMDB, para conseguir mais espaço, diante da reforma ministerial que está em curso. Mas não concorda com críticas feitas nos últimos dias por Eduardo Cunha de que o PT estaria tomando a frente nas articulações entre os partidos. Ele citou como exemplo os ministérios ocupados pela legenda.
“Os ministros mais descartáveis desse governo são os do PT porque sempre que há uma crise, são eles os que saem para dar lugar a nomes indicados pelas outras legendas, podem observar. O Ministério do Trabalho, que aborda uma área historicamente ligada ao PT, não está com um ministro do partido e não estamos reclamando isso. Da mesma forma, somos o partido mais municipalista que já existiu e o Ministério das Cidades não está sendo ocupado pelo PT. Não estamos cobrando isso também”, assegurou.
Para o líder, não é correto dizer que o PT e o PMDB – partido do vice-presidente Michel Temer (SP) – fazem parte da base do governo. “Na verdade eles próprios são o governo”, colocou, acentuando que recomenda aos líderes partidários para que conversem muito neste momento. Segundo ele, sua opinião é de que a crise entre governo e peemedebistas deve ser resolvida por meio de conversações entre representantes do governo, o vice-presidente Michel Temer e os dirigentes partidários, embora tais reuniões não excluam, propriamente, o líder da legenda na Câmara, deputado Eduardo Cunha.
Sobre as reclamações feitas algumas semanas atrás pelos parlamentares, de falta de interlocução com o Executivo, Vicentinho ratificou que a partir da próxima semana serão agendadas reuniões de dois a três ministros, semanalmente, com os deputados e senadores. Nessas ocasiões os titulares das pastas deverão ir até o Congresso para passar o dia deliberando com os parlamentares e ampliando tal relacionamento.
Valdir Raupp
Até a publicação desta reportagem ainda não havia sido divulgado qualquer resultado do encontro que estava previamente programado entre o presidente do PMDB, senador Vaidir Raupp (RO), e o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para conversar sobre a crise envolvendo governo e PMDB. Horas antes, Raupp afirmou em tom ponderado que pretendia buscar um entendimento e jogar um “balde de água fria”, conforme deixou claro, nos ânimos acirrados – numa menção indireta à postura de Eduardo Cunha.
O presidente do PMDB acentuou, ainda, que ele e vários expoentes da legenda estão dispostos a conversar com o governo. Também destacou que a posição externada pelo líder da legenda na Câmara não expressa o que sentem todos os integrantes do partido em relação ao assunto.
(Rede Brasil Atual)
Nenhum comentário:
Postar um comentário